sexta-feira, 4 de novembro de 2011

*Nova Data* Você está convidado para viver este dia conosco!




--


Caro(a) amigo(a),


A Câmara Municipal de Taubaté aprovou e o Prefeito Roberto Peixoto sancionou e promulgou a Lei que define como feriado o dia "5 de dezembro, aniversário da cidade, dia da elevação de Taubaté a categoria de Vila".


Como a Lei passa a vigorar a partir da data de sua publicação, 23 de novembro de 2011, informamos que a nossa apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo, "Pontos de Vista", marcada para este dia, foi remarcada para o dia 6 de dezembro, mantendo-se nos mesmos horário e local.


Agradecemos a todos os que tiveram a preocupação de nos informar e saber o novo dia da apresentação!


Não se esqueçam de reagendar o compromisso conosco para o dia 6 de dezembro.


Aos amigos(as) moradores(as) de Taubaté, aproveitem o feriado e voltem a tempo de assistir nossa apresentação!

Dia: 6 de dezembro de 2011
Horário: 19h
Local: Anfiteatro do Depto Comunicação Social - Unitau
Endereço: Av. Walter Taumaturgo, 787, Bom Conselho - Taubaté/SP

Até lá!

As autoras,
 Ana Paula Alcântara e Sabrina Zambello 

"Jane Campion encontra nas sutilezas O Brilho de uma Paixão", por Fabricio Ataíde

Texto escrito por Fabricio Ataíde e publicado no site Pipoca Moderna em 27/06/2010:


Londres, 1818. Um jovem e ocioso poeta de origem humilde se envolve com uma jovem de classe média, mas o relacionamento entre ambos enfrenta dificuldades de adequação. Ele, pobre e sonhador. Ela, espirituosa e repleta de idéias e atitudes que a colocam à frente do seu tempo. Ele, escritor errante e ligeiramente amargo, em busca de fama e receoso quanto ao futuro. Ela, determinada e completamente convicta de seus ideais. Entre o casal, as convicções sociais e regras rígidas de comportamento, características daquela época bucólica. Orgulho, preconceito, razão, sensibilidade, persuasão…

Não fosse esta uma história baseada em fatos reais, seria fácil confundi-la como uma adaptação dos clássicos literários da escritora romântica Jane Austen. Os elementos que compõem a obra da escritora – diversas vezes adaptadas para o cinema e a TV – estão presentes em “Brilho De Uma Paixão”, belíssima produção de época dirigida por Jane Campion.

Inspirada ou não por sua xará, Jane Campion traz as telas uma história romântica incorrigível. Com base na biografia do poeta John Keats escrita por Andrew Motion, a cineasta criou um roteiro que prioriza a história de amor entre o jovem poeta e sua vizinha Fanny Brawne, tendo como pano de fundo a sua escalada no mundo literário em busca de reconhecimento (que só veio após sua morte).

Para dar maior requinte ao vitral que compôs, ela se esmerou na fotografia, direção de arte e figurinos. As formalidades, o pudor, a elegância e sutileza dos gestos mostram um retrato sofisticado de personagens que passeiam entre a arrogância e a simplicidade, sempre armados de frases rebuscadas.

Ben Whishaw (protagonista de “Perfume – A História de Um Assassino”) interpreta Keats com garra e paixão. Em atuação que se confunde entre explosiva e sutil, o ator domina as cenas a ponto de ofuscar a presença de seu par romântico. Abby Cornish (vista ao lado de Heath Ledger em “Candy”), que dá vida a Fanny, era a grande promessa do filme. Apesar de possuir um brilho especial no olhar, que desvia a atenção do público para sua pouca beleza e conduzir com firmeza sua personagem, a atriz tem desempenho apenas satisfatório.

A química entre o casal, entretanto, é perfeita. Equilibrando sentimentos – apreensão e angústia por parte dele, liberdade e desprendimento do recato por parte dela – o casal demonstra em tela uma perfeita combinação deixando ora implícita ora explícita a profundidade dos sentimentos e o romantismo acelerado a que dão vazão no decorrer da trama.

Se por um lado a poesia de John Keats não é o centro das atenções do roteiro, por outro as imagens se traduzem como tal. Planos abertos que evidenciam o distanciamento dos protagonistas contrapõem-se a planos fechados que prosperam o toque de mãos e lábios revelando sua intimidade.

Em ritmo lento e apoiadas por uma trilha sonora sutil, as cenas que intermediam diálogos são de uma acuidade visual belíssima. Entre campos floridos ou mesmo um quarto fechado repleto de borboletas, percebe-se a intenção da diretora em poetizar o momento.

Contribuição obrigatória para a beleza cênica, os figurinos criados por Janet Petterson (indicada ao Oscar neste ano na categoria) são o grande destaque dos quesitos técnicos do filme. Nada mais justo, visto que a moda é a grande paixão da protagonista. Esta atividade, por sinal, é o ponto de partida das divergências entre o casal – Keats via o hobby como algo fútil. Os processos criativos de ambos, entre letras e tecidos, dá um charme especial ao motor da trama.

Entregue ao público como uma obra explicitamente romântica, com todos os ingredientes necessários – paixões, separações, conflitos, mortes – “Brilho De Uma Paixão” é um filme coerente, que revela o desnudamento emocional de seus personagens como um verso poetizado. Jane Campion, vencedora do Oscar de melhor roteiro original por “O Piano” (seu melhor filme, com 8 indicações ao Oscar em 1994) tem aqui a chance de se redimir do fiasco de seu último longa lançado por aqui, o constrangedor “Em Carne Viva” (2003).

Quem não possui familiaridade com o inglês se sentirá traído em um dos momentos mais belos da história, graças a um deslize lamentável da distribuição nacional: o poema de John Keats que dá título ao filme, “Bright Star”, é declamado no encerramento do longa, mas assim que os créditos começam a subir, a legenda é interrompida. Com isso, boa parte do público terá que se contentar com a beleza das imagens, perdendo a chance de apreciar, também, a beleza dos versos românticos do autor.

Assista ao trailer de Brilho de Uma Paixão:




Fabricio Ataíde
crítico de cinema colaborador do site Pipoca Moderna.

"Scott Pilgrim Contra o Mundo", por Alexandre Carlomagno

Texto escrito por Alexandre Carlomagno e publicado na coluna Na Prateleira do blog Cinemorfose em 05/03/2011:


Metáfora sobre a juventude e a busca incessante pelo amor surge sob uma profusão de grafismos apropriada ao nosso tempo.

O diretor Edgar Wright pode não ser dono de uma filmografia, digamos, invejável, ainda mais por ter uma vida tão curta dentro do cinema – este é seu terceiro longa-metragem. Mas seu estilo é muito bem definido desde a primeira sequência de Todo Mundo Quase Morto (2004) até o último quadro deste Scott Pilgrim Contra o Mundo, e isso tanto em termos estilísticos quanto narrativos e temáticos.

Adaptação da história em quadrinhos homônima criada por Bryan Lee O’Malley, o filme conta a história de Scott Pilgrim (Michael Cera, cada vez mais especialista em interpretar jovens nerds): um garoto nos seus 20 e poucos anos de idade, baixista da Sex Bob-Bom (uma banda cuja única fã é a namorada de Pilgrim), que… Bem, não é nada mais se não um garoto atrás de garotas que regurgita seu vasto conhecimento nerd, veste camisetas descoladas e tenta ser bem visto pelos demais. De festa em festa, ele tromba com Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead, cada vez mais especialista em ser linda), uma enigmática entregadora da Amazon.com com cabelos laranja. A atração é súbita, ao menos por parte dele.

Ela, muito mais experiente e madura, reage de forma natural e até mesmo fria diante o visível desespero do rapaz em se aproximar. Contudo, para realmente ficar com Ramona, Pilgrim terá que enfrentar a liga dos sete ex-namorados malignos. Agora, se a premissa em si já não fosse absurda o bastante, a mesma poderia cair no ridículo caso o diretor Edgar Wright não fizesse o que realmente sabe fazer: abraçar o absurdo com uma direção que deixa toda essa “aberração” passível de normalidade. Ou seja, a sua visão sobre a trama consegue ser ainda mais surpreendente, audaciosa e consequentemente mais divertida, peculiar e com um humor sagaz e cínico.

Ao transpor os quadrinhos para as telas, Wright opta por transcender os limites da física e transforma o mundo real em “real” – sim, com aspas. Sua veia cômica faz com que Pilgrim seja arremessado à atmosfera e volte intacto, por exemplo, assim como todos os elementos cenográficos, que se movem num ritmo propositalmente desgarrado do humanamente possível – como os namorados com super-poderes (destaque para o vegan interpretado por Brandon Routh), ou mesmo os personagens que andam num ritmo cartunesco, digno do melhor desenho animado.


No entanto, o “real” existe com aspas porque toda essa profusão de imagens e sons existe enquanto metáfora para o crescimento de Pilgrim, que por sua vez não é nada mais que uma projeção de nós mesmos e uma representação abstrata de sentimentos. É o menino diante uma mulher, e a forma como os relacionamentos, e a maneira como acontecem, evoluem conforme a idade, o amadurecimento. Conforme o próprio título diz: é Scott Pilgrim contra o mundo, não apenas contra os sete ex-namorados. E a partir disso, Wright não poupa o espectador na base das três décadas de existência de uma avalanche de homenagens e citações – desde Zelda, 8 bits, até Seinfeld e mudanças comportamentais enquanto quesito para aceitação social. Afinal, só quem já passou por isso é capaz de realmente captar a essência de Pilgrim.

É verdade que a hiperatividade de Wright algumas vezes atrapalha no processo de absorção do que se vê na tela, como na sequência em que as propriedades de Pilgrim são mostradas – até mesmo quem é fluente em inglês terá dificuldade em compreender todas as informações. No entanto, isso é tão pouco se comparado com o grafismo exarcebado que corrobora para a narrativa (nem mesmo a proporção da tela sai impune das mãos do diretor) que é fácil deixar de lado. Aliás, difícil é não deixar de lado, já que Scott Pilgrim Contra o Mundo é uma diversão ininterrupta extremamente bem elaborada com o propósito de entreter da forma mais tresloucada possível. E funciona muito bem.


Alexandre Carlomagno
jornalista, vídeo documentarista e crítico de cinema de sites como O Capacitor, R7, Inconfidência Ribeirão e do blog Cinemorfose.

"Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami, é obra genial que aborda relacionamentos amorosos", por Luciana Borges

Texto escrito por Luciana Borges e publicado no site Colherada Cultural em 23/03/2011:


Pare o que você estiver fazendo, ache espaço na sua agenda e vá assistir à “Cópia Fiel”. O filme mais recente do cineasta iraniano Abbas Kiarostami a estrear nos cinemas brasileiros (entrou em cartaz na última sexta, dia 18) é, de longe, um dos melhores do ano até agora. Justifica o prêmio de melhor atriz levado por Juliette Binoche em Cannes, em 2010, e apresenta ao mundo o talento interpretativo do barítono inglês William Shimell, seu “par romântico” na trama. As aspas, aqui, não são mero acompanhamento. Kiarostami conta uma história de aparências na qual o próprio espectador preenche as lacunas de um tema universal: o relacionamento entre homem e mulher.  

Em uma cidadezinha da Itália, James Miller (Shimell) lança seu mais recente livro sobre o valor das cópias de obras de arte em detrimento dos originais. Na plateia está a francesa Elle (Binoche), com quem James se encontra mais tarde na loja de antiguidades de sua suposta admiradora (um lugar que vende cópias de obras italianas). De lá os dois partem para um passeio sem mais compromissos. Elle aproveita o dia livre do escritor para levá-lo a um lugarejo meia hora distante e lá mostrar um quadro reconhecidamente falso que, por ser uma reprodução perfeita de seu original, ganhou status de obra de arte e é até exibido em um museu.

Até aí o espectador apenas acompanha a câmera passeando pelas belas paisagens italianas e mergulha na química que vai se criando entre os dois personagens graças aos diálogos extremamente bem construídos. A sacada do roteiro se dá quando James e Elle estão em um café e ele sai da mesa para atender ao celular. Enquanto o escritor está fora, a dona do lugar puxa conversa com Elle acreditando que James é marido da francesa. Ela não desmente a confusão e, a partir de então, passa a tratar o homem que teoricamente acabou de conhecer como alguém com quem está casada há 15 anos.

O suposto casal segue sua ronda pela cidade, agora debatendo frustrações de um relacionamento que nunca existiu. Será que eles eram casados de verdade? A realidade da situação é tanta que o espectador passa a ter dúvidas se aquela dupla já não se conhecia, se Elle e James, de fato, já não partilharam um passado juntos e agora tratam de colocar à mesa pequenas e grandes frustrações da vida em comum. No caminho, mais elementos colaboram para essa dualidade entre o que é verdadeiro e o que é falso, como as noivas que buscam em uma escultura dourada em forma de árvore o bom agouro para um matrimônio feliz.

A produção franco-ítalo-belga comandada por um diretor iraniano e estrelada por uma francesa e um inglês deixa claro que língua ou nacionalidade não são limites para entender os sentimentos ligados à relação homem-mulher, bem como para apreciar uma obra de arte, seja ela original ou não. O casal cópia, que não sabemos se é ou não um “casal-original”, discute suas mazelas em três idiomas diferentes. As queixas de cada um, porém, têm sempre o mesmo significado, ainda que em outras palavras.

Em muitos textos sobre “Cópia Fiel” e sobre o trabalho de Abbas Kiarostami nesse filme se questionou se o cineasta estaria dando as costas para a situação política conturbada de seu país. Não é o caso. Acostumado a explorar diferentes formas de comunicação em sua filmografia, conseguiu comprovar a teoria em espiral que se repete a todo momento em “Cópia Fiel”. Se uma obra toca nossos sentimentos mais íntimos já conseguiu realizar sua missão e ter seu valor. Neste caso, é a interpretação inspirada deste casal que nos leva a isso.

Assista ao trailer de Cópia Fiel:





Luciana Borges,
jornalista e crítica de cinema do site Colherada Cultural.

"A suprema infelicidade de Arnaldo Jabor diante da crítica cinematográfica", por Marcos Petrucelli

Texto escrito por Marcos Petrucelli e publicado no site e-Pipoca em 08/11/2010:

Várias vezes comentei na Rádio CBN, onde desempenho o papel de comentarista com o quadro "Sessão de Cinema", que acho um descalabro a seguinte situação: um crítico de cinema decide virar cineasta, mas continua fazendo crítica de cinema. Porque para mim é absolutamente inconciliável um indivíduo fazer o papel, ao mesmo tempo, de pedra e vidraça. Só que hoje descobri que existe coisa pior. Um cineasta vira jornalista, volta a fazer cinema depois de mais de vinte anos enquanto continua sua atividade de jornalista e usa o veículo em que trabalha não só para fazer propaganda do próprio filme, mas principalmente para atacar a crítica contrária ao seu trabalho.

Pois foi isso o que o cineasta-jornalista-cineasta Arnaldo Jabor fez também na CBN, ao comentar sobre seu próprio filme, "A Suprema Felicidade". Isso é mais do que ridículo. É deselegante e ofensivo. Ainda mais porque ele diz claramente, já ao final de seu comentário: "quem gostar do filme não é burro não. Burros são os críticos."

Coloco-me no lugar de Arnaldo Jabor e fico imaginando o quanto esse senhor está sofrendo. Deve ser terrível essa sensação: de repente, depois de duas décadas detonando personalidades do mundo político e artístico, ele se vê na posição de criticado. É de dar dó. Como é que pode, segundo seu comentário na CBN nesta segunda-feira (8 de novembro), "A Suprema Felicidade" estar sendo aplaudido e a crítica não gostar do filme? Que absurdo é esse? Aliás, diz Jabor, os cinemas que passam seu filme estão cheios; as pessoas estão gostando; e uma pessoa (uma pessoa???) inclusive escreveu dizendo que saiu do cinema lotado de pessoas que aplaudiam emocionadas. Então ele diz que primeiro ficou feliz, mas que estava errado. Decobriu que era um mané...

Sou obrigado a concordar. Aliás, eu concordo sem ser obrigado. Porque numa mistura de ironia e ódio, o Jabor diz que são outros que sabem a verdade. Os outros são os críticos, que são taxativos e cruéis, segundo ele. O Jabor reclama que a Folha de S.Paulo e a Vejinha falaram mal de seu filme. E depois diz que o Globo e o Estadão falaram bem. Pois é, isso é a crítica. Alguns fazem um tipo de análise, outros fazem outro tipo. Uns gostam e outros não. Mas o Jabor não aceita quem não goste. E quem não gosta, para ele, é burro.

Jabor não aceita que seu filme seja rotulado de saudosista infantilóide. Aliás, praticamente tudo que se diga sobre o filme acaba resvalando de alguma forma no próprio autor. "A Suprema Felicidade" é um filme semibiográfico, que tenta mostrar um tempo em que - pelo menos na mente nostálgica do Jabor - tudo parecia mais ingênuo. Mas o Jabor parece que não está aceitando que parte da crítica diga isso. Ele não aceita ouvir que seu filme tem um protagonista ingênuo, raso até, que se desvia de dramas maiores - alcançar a maturidade - para falar do amigo gay, por exemplo. Ok, um adolescente que se descobre homossexual (ainda mais entre os anos de 1940 e 1950) seria um baita conflito, mas Jabor rapidamente abre mão desse arco dramático. Jabor não aceita que se revele que praticamente todos os personagens são unidimensionais e sem qualquer personalidade; personagens, estes, uma perfeita caricatura e histriônicos. Não aceita, enfim, que se diga que seu filme inteiro é histriônico, teatral e jocoso. Sai de baixo se alguém disser, então, que o filme causa a sensação de estarmos diante de uma peça de museu - junta no mesmo saco elementos dos musicais da Atlântida (com as marchinhas de rua), da chanchada e/ou porno-chanchada (nudez e sexo) e do Cinema Novo ("neorrealismo meio operístico do bordel", como definiu o crítico Marcelo Hessel, do site Omelete).

Jabor definitivamente não aceita nenhum desses comentários e pronto. E lança uma questão: ao lembrar que o filme já foi visto por 180 mil pessoas, quer saber se esse monte de gente é um bando de idiotas - como poderia, se eles viram seu filme? Claro que não. São pessoas cheias de boa vontade diante de um cinema nacional em franca ascensão. E foram para testar. Mas será que todas realmente gostaram? Uma olhadela no Twitter do filme (@supremafelicidd) se descobre comentários assim: "me deu sono...", "nem o trailer me agradou", "é um desastre cinematográfico", "deu vergonha", "uma suprema infelicidade". Opiniões!

O fato é que 180 mil espectadores, meu caro Jabor, é "peanuts", como diriam os americanos. Quando nos deparamos com esse número, ele até pode parecer algo impressionante. Mas em termos absolutos ele não quer dizer nada. Aliás, diz sim: que 180 mil espectadores é igual a - mais ou menos - entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Custo do filme? De acordo com números divulgados no site da Ancine (Agência Nacional de Cinema), "A Suprema Felicidade" recebeu aprovação das leis de incentivos e autorização para captar um total de R$ 9.634.459,00. Informa a Ancine que o filme captou R$ 7 milhões. Ora, 1 milhão e meio de reais, 2 milhões ou 3 milhões, que fossem, não são iguais a R$ 7 milhões. Ou seja, comercialmente falando "A Suprema Felicidade" vai se mostrando até o momento um retumbante fiasco.

Fracasso ou não de bilheteria, o que mais incomoda é a postura do jornalista Arnaldo Jabor. Acaba se esquecendo do real conceito de liberdade de expressão diante da embriaguez pelo retorno à tarefa de cineasta. E nessa função, além de simplesmente não tolerar ser criticado, ainda considera burros aqueles que o criticam. Lamentável.

ATUALIZAÇÃO:
Como se lê no texto acima, e de acordo com a afirmação feita por Arnaldo Jabor, seu filme "A Suprema Felicidade" teria sido visto por 180 mil pessoas. Não é verdade, como se pode verificar no ranking das bilheterias nacionais agora atualizado. Em sua segunda semana em cartaz no país, o filme soma 173.800 espectadores. Em termos de vendas de ingressos, isso corresponde a uma arrecadação de exatos R$ 1.745.160,00. Uma vez que a produção de "A Suprema Felicidade" teria consumido um orçamento de estimados R$ 7 milhões (valor que fora captado pela produção, segundo consta no site da Ancine), o filme pode ser considerado até aqui um fracasso de bilheterias.



Marcos Petrucelli
jornalista e crítico de cinema do site ePipoca e da rádio CBN.

"A globochanchada equivale a um passeio no shopping", por Ricardo Calil

Texto escrito por Ricardo Calil e publicado no blog Olha Só do portal iG em 14/07/2011:


Existem equivalências entre experiências urbanísticas e experiências cinematográfica? Há filmes que remetam, por exemplo, a um passeio de bicicleta no parque ou a uma caminhada por uma rua deserta?

Desconfio que sim, que existem comparações possíveis. Porque sempre que vejo uma dessas comédias de situação brasileiras recentes eu me sinto em um shopping center ou em condomínio fechado. Eu me refiro aos filmes que o cineasta Guilherme de Almeida Prado bem definiu como globochanchadas: “Se eu fosse você”, “De pernas para o ar”, “Divã”, “Qualquer gato vira-lata”, “Muita calma nessa hora”, “A mulher invisível” e agora “Cilada.com”.

O shopping e o condomínio são lugares fechados que emulam outros abertos, respectivamente uma rua de comércio ou uma vila. Mas que oferecem a comodidade e a artificialidade do ambiente controlado, planejado, protegido do caos do resto da cidade.
As globochanchadas também emulam a vida real, mas não se deixam contaminar por ela. E eu me refiro ao aspecto audiovisual mesmo desses filmes: eles parecem filmados em ambientes assépticos, esterilizados, herméticos. Até as externas ter um shopping como locação.

A julgar pelo sucesso nas bilheterias desses filmes (o de “Cilada.com” é o exemplo mais recente), boa parte do público de cinema brasileiro quer mesmo essa sensação de segurança, de conforto trazido por esses filmes – assim como muitas pessoas sonham em um dia morar num condomínio fechado.

Mas ainda existem cineastas e espectadores que gostam de dar umas voltas por becos e vielas. Nem tudo está perdido, para nossas cidades e nosso cinema.



Ricardo Calil
jornalista, documentarista e crítico de cinema da Folha de S. Paulo e do blog Olha Só do portal iG.

"A Origem é o melhor filme da indústria em anos", por Mariane Morisawa

Texto escrito por Mariane Morisawa, de Los Angeles, e publicado no portal iG em 22/07/2010: 

Em seu novo longa-metragem Christopher Nolan acredita no público e nas ideias.

Christopher Nolan desafiou os espectadores ao fazer de O Cavaleiro das Trevas muito mais do que um simples e divertido filme de super-herói. A produção era complexa, sombria, com tantos efeitos especiais espetaculares quanto drama. O público embarcou: foram mais de US$ 1 bilhão faturados ao redor do mundo.

Tamanho sucesso credenciou o diretor a comandar um projeto mirabolante em que trabalhava havia mais de dez anos. A Origem, como outras obras do cineasta, investiga a mente, desta vez por meio dos sonhos. Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) comanda uma equipe que compartilha e assim invade os sonhos de pessoas para roubar de seu inconsciente segredos que possam ser utilizados por empresas concorrentes. Um poderoso empresário (Ken Watanabe) procura o serviço para propor algo diferente: que ele implante uma ideia no cérebro do herdeiro de outra companhia (Cillian Murphy). Dom contrata uma nova arquiteta dos sonhos, Ariadne (Ellen Page), e junta sua turma, formada por Arthur (Joseph Gordon-Levitt), Eames (Tom Hardy) e Yusuf (Dileep Rao). Ao mesmo tempo, o passado de Dom, na forma de Mal (Marion Cotillard), vem para assombrá-lo.

Como os sonhos são ambientes cinematograficamente ideais, as cenas vão deixar o espectador boquiaberto como não ficava desde Matrix. Paris dobra-se sobre si mesma, explode em milhões de pedacinhos, jatos de água invadem uma casa tradicional japonesa. Joseph Gordon-Levitt, que faz o responsável por toda a logística do grupo, é quem se diverte mais, andando pelas paredes e pelo teto e levitando em espaços com gravidade zero.

A Origem não é um simples filme de ação, no entanto, e mistura gêneros diversos. Há um golpe em andamento, o que contribui para o suspense, mas também drama e uma história de amor. A fronteira entre heróis e vilões fica ainda mais borrada do que em Cavaleiro das Trevas. O que Dom e sua trupe fazem é ilegal e imoral, mas, ainda assim, torcemos por eles.

O diretor leva seus jogos mentais à última instância e desafia o espectador para que fique ligado nas intricadas camadas de seu roteiro, sem jamais chateá-lo com um quebra-cabeças inútil. É impossível não ficar intrigado. Nolan acredita nas ideias, acredita na imaginação, acredita no público – algo cada vez mais raro, se não inexistente, em Hollywood. E, assim, fez o melhor filme da indústria em anos.

Assista abaixo ao trailer de A Origem:




Mariane Morisawa
jornalista e crítica de cinema colaboradora do iG e da revista Preview.

"O crepúsculo de Drácula - Stephanie Meyer", por Rodrigo Salem

Texto escrito por Rodrigo Salem e publicado na coluna Cinema da revista BRAVO! em dezembro 2009:


Depois de inspirar obras-primas da literatura e do cinema, os vampiros são transformados em vegetarianos insossos pela escritora Stephanie Meyer, dando início à triste decadência da espécie. 


Cada época tem o Drácula que merece. As histórias de vampiro se incluem naquela categoria de mitos duradouros que, recontados de forma diferente em cada era, dizem muito sobre o espírito de seu tempo. Seguindo essa linha de pensamento, como interpretar o sucesso da saga literária Crepúsculo, da autora americana Stephanie Meyer - cujo subproduto mais recente, o filme Lua Nova, está em cartaz nos cinemas brasileiros? O que vampiros vegetarianos, que usam seus caninos afiados para perfurar alface e rúcula, têm a dizer sobre os tempos atuais? Para responder a essas perguntas, é necessário ir às origens do mito. Os primeiros relatos sobre as criaturas que um dia seriam conhecidas pelo nome de "vampiros" surgiram por volta do século 12. Durante mais de 200 anos, a superstição sobre o homem morto que volta à vida após o pôr do sol se disseminou pela Europa. A lenda começou a virar objeto de interesse cultural apenas no começo do século 19, quando o ítalo-britânico John Polidori escreveu o conto The Vampyre para a publicação inglesa New Monthly em 1819. O nobre errante que atraía mulheres inocentes para se alimentar de seu sangue foi inspirado em um companheiro de viagens chamado George Gordon Byron. Sim, ele mesmo, Lord Byron, o poeta que escreveu a mais arrebatadora versão do Don Juan (outro mito que atravessa eras) - e que se tornou popstar em sua época tanto pelos versos quanto pela vida aventurosa. De onde se depreende que a figura literária do vampiro é, na origem, romântica.

Em sua primeira encarnação literária importante, no entanto, o vampiro nada tinha de sedutor. Cada época, já se disse, tem o vampiro que merece, e o da era vitoriana é o Drácula, protagonista do romance de Bram Stoker escrito em 1897. Para confrontar a moral puritana daquele tempo, o autor criou um personagem que tinha mau hálito, pelos nas palmas das mãos e bigodinho branco. Todas essas características foram atenuadas na primeira versão cinematográfica do livro. O Drácula interpretado por Bela Lugosi no cinema, em 1931, tinha aspecto elegante, sotaque estrangeiro charmoso e modos formais. Apesar de ter formado a figura icônica do vampiro-mor, Bela Lugosi o interpretou desprovido de sexualidade. Essa pegada casta tem a ver com o fato de esse vampiro representar outra época, a da Grande Depressão. O filme não podia correr riscos financeiros em um mundo abalado pela crise de 1929.

O Drácula como conhecemos, de caninos afiados e mordidas no pescoço de belas mulheres, só ganhou esse aspecto no final da década de 50, quando foi encarnado no cinema por Christopher Lee. A força sexual do conde vampiro era evidente. Numa época em que o sexo era controlado por pensamentos autoritários, Lee mostrou suas presas antes de se debruçar no corpo entregue de sua amada, Mina Murray. Era a figura do libertino que a estudiosa Carol Fry, autora do artigo Fictional Conventions and Sexuality in Dracula ("Convenções Ficcionais e Sexualidade em Drácula"), publicado em 1972, dizia ser representada pelo homem que deixava marcas na mulher e a infectava a ponto de a vítima se tornar uma pária social. Mas o significado mais óbvio era o retrato do sexo enrustido da década de 50, um sexo reprimido sob a luz do dia, mas solto e tórrido no escuro do quarto.


Passado o período da revolução sexual, nos anos 60, esses seres românticos e calientes puderam finalmente se expressar livremente - e a figura do vampiro chegou a seu auge artístico em duas grandes obras-primas do cinema. A primeira é Nosferatu, O Fantasma da Noite, de Werner Herzog, de 1979. Poucas imagens são mais eróticas do que o corpo arfante de Isabelle Adjani no momento em que o vampiro de Klaus Kinski aproxima as presas da carne branquíssima de seu pescoço, num fotograma que lembra um quadro expressionista. "Não poder envelhecer é terrível. A morte não é o pior. Imagine durar séculos, vivendo a cada dia a mesma futilidade", diz o personagem em sua fala mais famosa.

O outro é o Drácula de Francis Ford Coppola, de 1992. Com o fim da era Reagan, o cineasta decidiu equilibrar a sedução do elegante conde vampírico, agora na pele charmosa de Gary Oldman, com sequências sexuais picantes. Provocou o Jonathan Harker de Keanu Reeves com três voluptuosas vampiras — uma delas, a atriz Monica Bellucci, no começo da carreira -, criou uma cena de bestialismo entre o Drácula semitransformado e a garota Lucy Westenra (Sadie Frost) e até chegou ao ponto de imaginar Mina (Winona Ryder) seduzindo Van Helsing (Anthony Hopkins). Apesar do apelo sexual, Drácula era um vampiro com o sentimento humano em busca do amor eterno. Era o reflexo da juventude que abraçou o Nirvana, principal banda do movimento roqueiro grunge - um ritmo cru em sua forma, mas extremamente romântico em sua natureza e letras.

De certa forma, a autora Stephanie Meyer captou o espírito dos adolescentes do nosso tempo quando lançou o primeiro capítulo da tetralogia literária Crepúsculo. O romantismo do Drácula de Gary Oldman agora ganhava uma versão assexuada na adaptação do fenômeno para as telas em 2008. Edward (Robert Pattinson), o grande amor proibido da humana Bella (Kristen Stewart), não morde pescocinhos e tem o corpo brilhante como diamante ao se expor ao sol. Vampiros ecológicos, politicamente corretos e vegetarianos. Você consegue imaginar algo melhor para representar a adolescência emo, que procura respostas para a depressão pós-moderna em príncipes encantados que mudarão suas vidas chatas? OK, cada época tem o vampiro que merece, e os livros e filmes da série Crepúsculo até têm um ou outro momento divertido. Parafraseando Nosferatu, no entanto, pior do que morrer no auge é enfrentar uma longa e lenta decadência. Como essa dos vampiros que, privados de seu alimento vital - romantismo, sexo e sangue - parecem condenados a viver um eterno e tedioso crepúsculo.


Rodrigo Salem
jornalista, crítico de cinema e já foi editor da revista SET.

"A série Harry Potter", por Roberto Sadovski

Vídeo publicado em 18/11/2010:

No programa Metrópolis, da TV Cultura, Roberto Sadovski fala com o apresentador, Cadão Volpato, sobre as gravações de dois longas da série Harry Potter.

Assista aqui: 




Roberto Sadovski,
jornalista já foi crítico de cinema e editor chefe da revista SET e atualmente colabora para o programa Hoje Em Dia da TV Record.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

"Rio", por Christian Petermann

Vídeo publicado em 11/04/2011:

No programa Todo Seu, da TV Gazeta, Christian Petermann fala sobre o filme Rio, de Carlos Saldanha.

Assista aqui: 




Christian Petermann
jornalista e crítico de cinema do programa Todo Seu da TV Gazeta.

"Piranha 3D e os clássicos filmes de terror", por Franthiesco Ballerini

Vídeo publicado em 10/02/2011:

No programa Mulheres, da TV Gazeta, Franthiesco Ballerini fala dos filmes Piranha 3D e O Solteirão. E faz uma lista dos clássicos de terror de todos os tempos, incluindo Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick e outros.

Assista aqui: 




Franthiesco Ballerini
jornalista, coordenador e professor da AIC (Academia Internacional de Cinema) e crítico de cinema da revista Valeparaibano e da TV Gazeta.

"5x Favela: Agora Por Nós Mesmos", por Fabio Camarneiro

Texto escrito por Fabio Diaz Camarneiro e publicado na revista Cinética em setembro de 2010:
 
5x Favela: Agora Por Nós Mesmos,
de Cacau Amaral, Cadu Barcellos, Luciana Bezerra, Luciano Vidigal, Manaíra Carneiro, Rodrigo Felha e Wagner Novais

(Brasil, 2010)

 
Críticas contradições

Os problemas detectados no primeiro Cinco Vezes Favela já foram exaustivamente repetidos, fazendo parte hoje de uma espécie de “tradição crítica” do cinema brasileiro: jovens cineastas de classe média, ao criarem curtas sobre as favelas cariocas, estariam necessariamente presos aos preconceitos de sua classe social e colocariam na conta de outras pessoas discursos que eram deles mesmos. Oscilando entre o didatismo (em seus piores momentos) e uma busca por um estilo pessoal de seus realizadores (em seus melhores), Cinco Vezes Favela tornou-se um clássico, entre outras coisas, por mostrar como pensava o CPC (Centro Popular de Cultura da UNE, que patrocinou o filme) e por sua importância num momento de articulação de certo “núcleo duro” do Cinema Novo. O novo 5x Favela parece querer repensar os problemas do projeto original. O subtítulo do filme, “agora por nós mesmos”, acena para o fato de que os realizadores são, agora, oriundos das próprias comunidades retratadas. Essa escolha traz ganhos, como a possibilidade de relatos um pouco menos idealizados (ou simplesmente esquemáticos) do que acontece nas comunidades pobres de uma cidade complexa como o Rio de Janeiro. 
 
Por outro lado, se os cineastas de classe média não podiam escapar de seus preconceitos de classe, os jovens cineastas do novo 5x Favela também têm sua cota. A história da realização de 5x Favela pode iluminar alguns pontos sobre suas próprias contradições. A partir de oficinas de audiovisual em comunidades pobres do Rio, jovens realizadores criaram os roteiros e foram escolhidos para participar do longa. Nesse sentido, 5x Favela parece ser a coroação do trabalho das ONGs que se dedicam ao audiovisual em todo o país – produção que tem, como vitrine privilegiada, o festival Visões Periféricas, que ocorre anualmente no Rio de Janeiro. O discurso dessas ONGs geralmente fala em usar o audiovisual como ferramenta de inclusão social, aproveitando o relativo barateamento dos custos de produção, para contar as histórias vivenciadas por classes sociais que raras vezes tiveram acesso à produção audiovisual. Evidentemente, muitas dessas organizações desenvolvem trabalhos sérios. Parece óbvio também que as intenções são elevadas.Mas, quando um filme como 5x Favela chega ao circuito comercial, podemos pensar em alguns problemas presentes entre o discurso e sua prática. Cada época possui suas contradições. No primeiro Cinco Vezes Favela, havia uma espécie de didatismo revolucionário querendo ensinar o “povo” a fazer uma revolução política. No novo 5x Favela, existe quase sempre um individualismo que enfrenta a comunidade. Primeiro, existe uma separação radical entre como esses cineastas entendem “a favela” e “os moradores”. Os moradores são sempre vistos de maneira simpática, enquanto “a favela” (ou o tráfico, a criminalidade) é um problema a ser contornado para se alcançar um objetivo pessoal (seja um diploma ou uma conquista amorosa). 

Nesse sentido, 5x Favela não parece tão diferente assim de Cidade de Deus ou Tropa de Elite. O episódio Concerto para Violino parece dialogar diretamente com esses filmes, como se um jovem Capitão Nascimento se aliasse a Zé Pequeno para recuperar armas roubadas dos militares por uma facção criminosa. Por outro lado, 5x Favela evita esse discurso da violência e procura o cotidiano, as pequenas histórias. No episódio Fonte de Renda, temos um personagem extremamente pragmático, que trabalha com a cisão entre dois mundos: a favela e o asfalto, a classe pobre e a classe média. Após um entrecho trágico, o final é redentor. Mas a conquista do diploma universitário, a princípio, não deveria resolver os problemas do personagem principal. Apenas um diploma basta para se apagar um passado? É o único requisito para se entrar em uma nova classe social? Parece que o filme termina onde os problemas de seu personagem realmente começam.

Arroz com Feijão, de maneira muito tênue, faz lembrar Couro de Gato, ao retratar crianças tentando se virar (para conseguir dinheiro para comprar um frango). Aqui, o passado se coloca como um trauma, mas novamente o final é conciliador (algo totalmente diferente do curta de Joaquim Pedro, que deixava todas as suas contradições não resolvidas). A estrutura episódica traz, nesta segunda parte, um dos momentos interessantes de 5x Favela, quando garotos de classe média assaltam as crianças pobres. Já Deixa Voar parece mais interessante ao retratar uma cartografia de bairros dominados por facções criminosas rivais. Parece delicado retratar isso em uma cidade que, em seu todo, é uma espécie de labirinto codificado que apenas seus moradores compreendem totalmente: algumas ruas são permitidas, outras vetadas, outras são trafegáveis apenas em alguns horários. Nesse curta, os atores conseguem uma certa leveza, um certo jeito de mexer os corpos e de dizer suas falas que fazem o público, talvez pela primeira vez em 5x Favela, realmente experimentar a vida, os detalhes, os sotaques, as inflexões dessa comunidade. Alguns diálogos são pouco inteligíveis, carregados de sotaque, de uma nasalidade, de uma maneira de falar que não é um retrato feito para o cinema, mas que parece uma tentativa de se capturar um jeito de falar, um jeito como os corpos se movem naquele espaço (e o espaço é tudo nesse curta).

Mas o mais interessante dos curtas certamente é Acende a Luz, sobre uma véspera de Natal sem energia elétrica no morro do Vidigal. Em poucos minutos, de maneira leve, com agilidade, o que vemos é uma radiografia dos vários tipos humanos da favela: suas relações amorosas, a cumplicidade entre vizinhos, a agressividade latente (em determinado momento, cogitam linchar o funcionário da companhia de energia), sua afetividade. Cada um dos personagens desse episódio parece mais complexo (e, portanto, menos esquemático), do que no resto de 5x Favela. É quase como se tivéssemos um afresco, onde vemos os retratos muito vívidos de pessoas unidas para solucionar a questão da falta de energia. Novamente, o espaço da favela é muito bem utilizado, com a visão privilegiada do Vidigal servindo de contraponto para um verdadeiro labirinto de vielas e escadarias. E, no final das contas, trata-se disso mesmo: um labirinto em que, ao invés de deixar uma corda para guiá-lo de volta, Teseu preferiu brindar o Natal com o Minotauro – que, aliás, de monstruoso não tinha nada.

O primeiro Cinco Vezes Favela foi um dos marcos do Cinema Novo, um movimento que mudou muito sob o pensamento de Glauber Rocha. Sempre debitário do pensamento revolucionário soviético, grande admirador de Eisenstein, podemos resumir parte da colaboração de Glauber para o Cinema Novo citando a famosa frase do poeta Vladimir Maiakóvski: “sem forma revolucionária não há arte revolucionária”. A partir de Glauber, o Cinema Novo foi uma busca incessante não apenas por uma nova realidade política, mas por uma estética. Em 5x Favela, o que falta, justamente, é a ousadia estética. Por mais que esses cineastas tragam um novo olhar sobre o tema da favela e por mais que suas histórias tenham um certo frescor e algo que podemos chamar de “verdade” (seja lá o que isso queira dizer), pelo jeito de filmar, o desenvolvimento das tramas, a montagem que se quer “moderna” (com cortes rápidos, uso da música), eles parecem por um momento não quererem mais ser “eles mesmos”, como diz o título, mas um outro. 

Não defendemos aqui um certo primitivismo (sendo pobres, teriam que apresentar uma linguagem “inculta”). Pelo contrário: livres dos preconceitos da classe média, talvez pudessem pesquisar uma linguagem audiovisual mais “suja”, que dialogue com o grafite e com as vielas da favela do Vidigal; que use os figurinos de maneira mais criativa; um cinema que não queira ser classe média, que não tenha como objetivo o tapete vermelho ou a posteridade, mas que traga uma renovação, um verdadeiro novo olhar. Um cinema que seja “ele mesmo”, ao invés de tentar emular o outro, o convencional, o aceitável, o corrente, o dominante. Ou ficamos apenas num cinema de boas intenções, que tenta retratar coisas positivas da favela, de maneira simpática a seus personagens – como Helvécio Ratton já fez com seu Uma Onda no Ar, sobre a Rádio Favela de Belo Horizonte. Ou talvez toda essa diatribe seja apenas um reflexo dos preconceitos da classe social do crítico, que, como todo mundo, não tem como escapar de suas próprias contradições.



Fabio Camarneiro,
jornalista, roteirista, produtor, professor e crítico de cinema da revista online Cinética.

"Woody Allen, um romântico", por Sérgio Rizzo

Texto escrito por Sérgio Rizzo e publicado na coluna Cinema e TV do Yahoo! Brasil em 14/06/2011:

Para quem um dia afirmou que jamais filmaria fora de Nova York, Woody Allen andou usando bem o passaporte para trabalhar no exterior durante os últimos sete anos. “Meia-Noite em Paris”, que entrará em cartaz no Brasil na próxima sexta-feira, dia 17, é seu sexto longa-metragem rodado na Europa nesse período, que inclui apenas um filme rodado em Manhattan, “Tudo Pode Dar Certo” (2009).

O “renascimento” de Allen como diretor, a partir de seu apadrinhamento por produtores europeus, ilustra a velha imagem de aproveitar um limão para fazer uma limonada. Nesse caso, o sumo do fruto deu para vários litros, e nada indica que vá se acabar antes da aposentadoria do cineasta. A descoberta de que uma inesperada vertente para a sua carreira passava pelo aeroporto JFK veio depois de “Melinda e Melinda” (2004).

Naquela ocasião, e pela primeira vez em três décadas no cinema, os produtores de Allen se viram incapazes de levantar recursos nos Estados Unidos para o seu longa seguinte. O braço cinematográfico da BBC surgiu então como um parceiro gentil, que se dispôs a viabilizar o projeto, desde que duas exigências básicas fossem cumpridas: que o filme fosse rodado no Reino Unido, e com elenco predominantemente britânico.

Allen tratou de fazer adaptações no roteiro para ambientar a trama em Londres. Desse acordo, saiu “Match Point” (2005), uma habilidosa retomada de temas que já haviam sido trabalhados por “Crimes e Pecados” (1989) e, surpresa para quem considerava o cineasta ultrapassado, uma produção de orçamento relativamente modesto (cerca de US$ 15 milhões) que foi bem nos Estados Unidos (onde arrecadou US$ 23 milhões) e em diversos outros países.

A parceria com a BBC se estendeu a “Scoop” (2006), também rodado em Londres e, até o momento, o último filme de Allen como ator. Ainda na Inglaterra, mas com outra engenharia de produção, ele rodou “O Sonho de Cassandra” (2007). Quando a rejuvenescedora aventura europeia parecia encerrada, a produtora espanhola Mediapro alinhavou um projeto que precisaria ser rodado na Catalunha, com predominância de profissionais espanhois.
Daí nasceu “Vicky Cristina Barcelona” (2008), que reeditou o desempenho comercial de “Match Point” nos Estados Unidos e no mercado internacional. O Brasil foi um capítulo (positivo) à parte: “Vicky” teve quase 500 mil espectadores, contra 100 mil para “Match Point”. Satisfeita com o resultado, a Mediapro ajudou também a bancar “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” (2010), rodado em Londres, e “Meia-Noite em Paris”.

A próxima empreitada de Allen, também com a participação do poderoso grupo espanhol, é “Bop Decameron”, a ser filmado em Roma (e com o diretor novamente relacionado no elenco, ao lado de Penélope Cruz, Jesse Eisenberg, Ellen Page, Alec Baldwin e Roberto Benigni). O Rio de Janeiro estaria na fila para hospedar um de seus próximos projetos, nas mesmas condições dos filmes de Barcelona, Paris e Roma: pauta livre, desde que as filmagens sejam na cidade, empregando profissionais locais, preferencialmente.

Não se sabe ainda o que vem do filme de Roma, mas o conjunto londrino, o longa catalão e o parisiense foram baseados no mesmo princípio: o de um olhar estrangeiro (norte-americano, claro) sobre as cidades e suas culturas, guardando semelhanças com o universo habitual de Allen — predominância dos elementos da comédia dramática e, no centro das tramas, a insegurança e a dificuldade de estabelecer relacionamentos satisfatórios no mundo contemporâneo.

Simpático para o público internacional, esse formato tem gerado reações naturais nas cidades escolhidas para os filmes. Algumas das mais duras críticas a “Match Point” vieram da Inglaterra e consideraram, em linhas gerais, que a trama falseava um certo cenário social londrino. Na Catalunha, é fácil encontrar quem fale mal do “aspecto turístico” de “Vicky Cristina Barcelona”. E “Meia-Noite em Paris”, assumidamente, opera uma idealização romântica da capital francesa.

Tive a oportunidade de assistir ao filme em Paris, durante uma viagem a trabalho para cobrir a final da Liga dos Campeões em Londres, ao lado de um casal de amigos — ele, brasileiro radicado na Europa há duas décadas, e ela, francesa. Ao final, ele perguntou a ela: “Meu amor, o que você achou de ver a sua cidade no filme?”. Ela: “Qual cidade? Aquela do filme não é Paris”. Pode ser simpática e divertida, argumentou, mas não tem compromisso realista com a metrópole.

Nesse aspecto, não temos novidade: como “Manhattan” exemplifica melhor do que qualquer outro longa, sobretudo pelo uso de preto-e-branco e da música de George Gershwin, Allen quase sempre se dedicou a uma visão romântica (idealizada) de Nova York — o que lhe valeu, entre outras, críticas do cineasta Spike Lee, para quem ele “falseava” Manhattan ao criar tramas em que não havia negros (o que mais tarde, de qualquer forma, passou a ocorrer na obra de Allen).

PS – Se você é um admirador de Woody Allen, confira abaixo a lista que publiquei no Yahoo!, em abril de 2010, com meus dez filmes preferidos do cineasta. Desde então, ela não se modificou. Em ordem cronológica:

- “O Dorminhoco” (Sleeper, 1973)

- “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (Annie Hall, 1977)

- “Manhattan” (idem, 1979)

- “Memórias” (Stardust Memories, 1980)

- “Zelig” (idem, 1983)

- “Hannah e Suas Irmãs” (Hannah and Her Sisters, 1986)
 
- “A Outra” (Another Woman, 1988)

- “Crimes e Pecados” (Crimes and Misdemeanors, 1989)

- “Um Misterioso Assassinato em Manhattan” (Manhattan Murder Mistery, 1993)

- “Desconstruindo Harry” (Deconstructing Harry, 1997)




Sérgio Rizzo
jornalista, professor e colunista de cinema do site Yahoo! Brasil.

"Grandes musas do cinema", por Rubens Ewald Filho

Texto escrito por Rubens Ewald Filho e publicado em seu blog do Portal R7 no dia 30/10/2011:

Em 1999, o diretor e ator Albert Brooks, fez uma comédia cult chamada A Musa ( The Muse), onde ele mesmo fazia um roteirista de Hollywood em crise artística. Segue a dica de um colega que foi inspirado por uma “musa”, como as da mitologia grega: uma mulher que o inspira (mas ao se instalar em sua casa, faz exigências e causa problemas. Pior ainda: fica amiga da mulher dele). É uma brincadeira com uma das tradições mais velhas e apreciadas do cinema, a dos grandes cineastas que sempre tem suas musas, ou atrizes preferidas, através dos quais sabem melhor se expressar. Achei divertido relembrarmos alguns deles (as).

Roger Vadim e Brigitte Bardot 

bardot Grandes musas do cinema
Roger Vadim talvez seja o mais famoso dos Pigmaliões, que não apenas criou estrelas, mas também se casou (ainda que não oficialmente) com quase todas elas. Vadim (1928-2000) era de família russa e se casou com uma jovem bailarina aspirante à atriz Brigitte Bardot, tornando-a mundialmente famosa com E Deus Criou a Mulher (56). Era uma fórmula que se repetiria, mulheres de cabelos longos, lábios sensuais, com frequência nuas. Foi assim depois com Catherine Deneuve (O Vício e a Virtude, com quem teve um filho), a dinamarquesa Annette Stroyberg Vadim (1936-2005, Ligações Amorosas, Rosas de Sangue) e Jane Fonda (em quatro filmes, em especial Barbarella). O notável é que todas ficaram amigas dele até sua morte e se reuniram após o funeral para trocarem impressões.

Josef Von Sternberg e Marlene Dietrich 

josef von sternberg marlene dietrich coffee break 1930 001 Grandes musas do cinemaSternberg (1894-1969) era um diretor austríaco, que fez sucesso no cinema mudo americano e retornou a Alemanha para realizar um filme já falado, para o qual escolheu uma atriz alemã (já veterana de diversos filmes), Marlene Dietrich (1901-1992) a quem moldou conforme seu ideal de beleza. Embora ela fosse casada com outro e bissexual, a levou para os Estados Unidos, onde está se tornou estrela na Paramount, muito mais magra e misteriosa. Fizeram juntos Marrocos (com Gary Cooper), Expresso para Shanghai e mais quatro filmes. Forçados a se separem pelo estúdio (porque os filmes foram fracassando), Marlene conseguiu sobreviver como símbolo sexual e virou lenda até sua morte. Ele teve menos sorte sem conseguir encontrar outra musa.


Mauritz Stiller e Greta Garbo

garbo stiller opt Grandes musas do cinema
É curioso e ao mesmo tempo triste. Greta Garbo (1905-90) só se tornou uma lenda do cinema porque a MGM veio a Suécia para contratar o diretor Mauritz Stiller (1883-1928), por quem estavam interessados. Mas este exigiu que levassem junto sua protegida Greta, com quem tinha feito A Saga de Gosta Berling (24). Não eram namorados porque Stiller era homossexual, mas amigos. A Metro não queria, mas acabou aceitando Greta de contrapeso e a ironia foi que Stiller foi dispensado antes de conseguir completar sequer um filme no estudio (foi afastado de The Temptress assinado por Fred Niblo). Filmaria com Pola Negri (Hotel Imperial, The Woman on Trial, ambos de 1927) e Emil Jannings e Fay Wray (Street of sin, 28). Morreu logo depois aos 45 anos. Garbo, embora tenha lamentado muito continuou sua carreira americana e parte de sua fama de difícil veio para se vingar do estúdio que de alguma forma  matou seu amigo.


John Ford e Maureen O´Hara

john ford hara Grandes musas do cinemaOutra ironia curiosa. John Ford (1894-1973) é o diretor mais premiado com o Oscar na história do prêmio, quatro vezes vencedor e considerado pela crítica e pelos colegas um mestre, responsável também por dar respeito ao genero faroeste. Acusado de misógino, seu verdadeiro “muso” seria John Wayne, com quem fez muitos filmes (desde No Tempo das Diligências em 1939, e mais outros 14 filmes). A única atriz que gostava era da ruiva Maureen O´Hara (ainda viva), também irlandesa como Ford (embora ja tivesse nascido nos EUA) e que trabalhou com frequência com Wayne em filmes como Depois do Vendaval. O primeiro dela com Ford foi em Como era Verde o meu Vale, seguido por Rio Bravo, Asas de Águia, A Paixão de uma Vida. Mas seria ela em sua autobiografía que entregaria o diretor dizendo que o pegou em flagrante num beijo homossexual com Tyrone Power! Fato que os admiradores de Ford têm preferido ignorar.


George Cukor e Katharine Hepburn

The Philadelphia Story 1940 4 Grandes musas do cinema
Uma história um pouco semelhante. George Cukor (1899-1983) era dos mais assumidos gays de Hollywood, amigo íntimo de Katharine Hepburn (1907-2003), que tudo parece indicar também era bissexual. Na verdade, ele era o diretor favorito das estrelas, que podiam contar com seu cuidado e atenção (teria sido por isso que Clark Gable o teria dispensado de E o Vento Levou). Trabalhou pela primeira vez com Kate em sua estreia no cinema em Vítimas do Divórcio, 32, depois em Quatro Irmãs (Little Women, 33), a fez representar um rapazinho em Sylvia Scarlett/Vivendo em Dúvida. Se reencontraram em Núpcias de Escândalo (40), O Fogo Sagrado (já com Spencer Tracy, em 42), A Costela de Adão (49), A Mulher Absoluta (52), Amor entre Ruinas (75), O Milho Está Verde (79). Estes, porém, sempre foram amigos e fieis.
 

Alfred Hitchcock e Grace Kelly

grace kelly alfred hitchcock Grandes musas do cinemaSempre foi sabido que Alfred Hitchcock (1899-1980) tinha preferências por loiras frias e sofisticadas. Prova disso é que trabalhou com varias delas, como Madeleine Carroll, Carole Lombard, Joan Fontaine. Mas teve sua primeira musa na figura de Ingrid Bergman (1915-82), com quem trabalhou várias vezes (Quando Fala o Coração, 45, Interludio, 46, Sob o Signo de Capricórnio, 49). Só que abandonou Hollywood para viver com Rosselini na Itália. Em meados dos anos 50, finalmente fez três filmes seguidos com sua mulher ideal, Grace Kelly (1929-1882): Disque M para Matar, 54, Janela Indiscreta, 54, e Ladrão de Casaca, 55. Neste último cometeu o erro de filmar em Mônaco, onde conheceu o príncipe Rainer, com quem viria a se casar e abandonar o cinema. Hitch nunca se conformou e tentou trazê-la de volta com Marnie, mas os súditos de Mônaco se manifestaram contra e ele teve que substituí-la por Tippi Hendren, físicamente parecida com Grace, mas sem o mesmo talento ou beleza. A princesa morreria aos 52 anos num acidente de carro.


Federico Fellini e Giulietta Masina

600full giulietta masina Grandes musas do cinema
Fellini (1920-93) era apenas um cartunista e aspirante a roteirista, quando conheceu uma atriz do teatro revista porquem se apaixonou: Giulietta Masina (1921-94), com quem se casou em 1943. Ela chegou a fazer pontinha em Paisá, do amigo Rossellini (o marido era um dos roteiristas) e esteve em Sem Piedade (48, de Lattuada). Fellini estrearia no cinema justamente co-dirigindo um filme com Lattuada (que seria o tal meio de Oito e Meio), que foi Mulheres e Luzes (50), onde os dois colocaram as respectivas patroas: Carla del Poggio e Giulietta. No primeiro longa sozinho dele, O Abismo de um Sonho (52). Giulietta fazia uma participação como a prostituta Cabiria, que depois ele expandiria para estrela em Noites de Cabíria (57). Mas a grande chance dos dois foi o sucesso mundial com o premiado com o Oscar A Estrada da Vida (54), em que ela fazia Gesolmina, de olhos de Chaplin. Eles ainda voltariam a se encontrar no autobiográfico Julieta dos Espíritos (65) e depois em Ginger e Fred (86). Apesar das infidelidades do cineasta (mais notadamente com Sandra Milo), a sua morte inesperada foi antecipada pelo câncer que estava matando Giulietta e a levou menos de cinco meses depois.
 

Vittorio De Sica e Sophia Loren

loren de sica matrimonio opt Grandes musas do cinema
Uma relação diferente, já que eles não eram casados nem amantes, apenas amigos. De Sica (1901-74) mantinha uma casamento de fachada há muitos anos (com duas atrizes Giudita Rissone e depois Maria Mercader, com quem ficou até a morte) e era um astro famoso no cinema e na canção desde o começo dos anos 30. O problema de De Sica era o jogo e por causa das grandes fortunas que perdia no Cassino estava sempre fazendo filmes fracos para pagar as dividas. Sophia (nascida em 1934 e ainda viva) era desde sempre protegida, amante e depois mulher do produtor Carlo Ponti, que era quem financiava a maior parte dos filmes dela. De Sica e Sophia se conheceram como atores em fitas como Nossos Tempos, O Pecado de ser uma Canalha e Pão, Amor E… De Sica a dirigiu pela primeira vez em Ouro de Nápoles, 54, e logo depois no filme que daria a Sophia um Oscar de melhor atriz (Duas Mulheres, 62). Dali em diante seria normal o reencontro, em geral também com Marcello Mastroianni para completar o triângulo (como em Ontem, Hoje e Amanhã, 63, Matrimônio à Italiana, 64, Os Girassóis da Rússia,70). Houve ainda O Condenado de Altona e Boccacio 70, ambos em 62, e o último Viagem Proibida, 74.


Claude Chabrol e Isabelle Huppert

atores Grandes musas do cinema
Chabrol (1930-2000) foi de todos os diretores da Nouvelle Vague, aquele que teve carreira mais prolífica (dirigiu 72 títulos!) e também antes fez dupla com sua então esposa Stephane Audran (com quem realizou filmes memoráveis como As Corças, O Açougueiro, A  Mulher Infiel, Amantes Inseparáveis). Ficaram casados entre 1964 e 80 e ironicamente ela é mais lembrada por A Festa de Babette, que nao é de Chabrol. O encontro mais marcante foi com Isabelle Huppert (1953), com quem começou a trabalhar em Violette Noizére (78, inédito aqui) e que por sinal ainda tinha Audran no elenco. Os dois voltaram a se encontrar em Madame Bovary (91), Mulheres Diabólicas (La Ceremonie, 95), Negócios a Parte (Rien ne Va Plus, 97), A Teia de Chocolate (Merci pour le Chocolat, 00) e Comédia do Poder (L´Ivresse du Pouvoir, 2006).


Walter Hugo Khouri e Lilian Lemmertz

tumblr lnbqf8WGDd1qfdh23o1 500 2 Grandes musas do cinema
O fenômeno da parceria entre diretor e atriz claro que ocorreu também no Brasil, como por exemplo entre Leila Diniz e Domingos de Olivieira (ainda que só em dois filmes, Todas as Mulheres do Mundo e Edu, Coração do Ouro, quando já nem estavam juntos ) ou Paulo Cesar Saraceni e Isabella (Desafio, Capitu). Mas talvez o caso mais notável foi o do diretor paulistano Walter Hugo Khouri (1929-2003) com a gaúcha Lillian Lemmertz (1937- 1986). Ela que é mãe de Julia Lemmertz (o pai é o ator já falecido Lineu Dias), trabalhou muito em teatro com Cacilda Becker e Walmor Chagas. Estreou pelas mãos de Khouri num de seus melhores filmes, Corpo Ardente (66), retornando em As Amorosas (68) e depois As Deusas (72). Seguiram-se O Último Êxtase, 73, O Anjo da Noite, 74, O Desejo, 75, Paixão e Sombras, 77, Eros, o Deus do Amor, 81. Embora Lillian tenha tido papéis principais em filmes de outros (Cordélia, Cordélia, de Rodolfo Nanni, 71 e Aleluia, Gretchen, de Sylvio Back, 76) e feita muito televisão, ninguém como Khouri para captar sua beleza e mistério.



Rubens Ewald Filho,
jornalista, historiador, geógrafo, advogado e crítico de cinema do R7.