quarta-feira, 30 de julho de 2014

Em busca da verdade por Iara

O lançamento do documentário sobre a morte de Iara Iavelberg durante a Ditadura Militar soma-se ao muitos eventos que marcam os 50 anos do Golpe de 64 este ano no país, onde é válido destacar também os filmes “Diário de uma busca”, de Flávia Castro, e “Cidadão Boilesen”, de Chaim Litewski.

O documentário brasileiro “Em busca de Iara” recebeu Menção Honrosa no Festival É Tudo Verdade 2013. O filme de Flávio Frederico e sua esposa Mariana Pamplona esteve em cartaz no Brasil durante o primeiro semestre deste ano.



Através de uma investigação pessoal de sua sobrinha, Mariana Pamplona, o filme resgata a vida da guerrilheira Iara Iavelberg. Uma mulher inteligente, elegante e de origem judia, que deixou para trás uma confortável vida familiar, optando por engajar-se na luta armada contra o regime militar. Vivendo na clandestinidade e executando ações armadas, tornou-se a companheira do ex-capitão do exército Carlos Lamarca, compartilhando com ele o posto de um dos alvos mais cobiçados da repressão.

O foco da obra de 91 minutos é retratar a vida de Iara Iavelberg e o amor por Lamarca, destacando sua influência na formação intelectual do guerrilheiro. No diário de Lamarca, ele conta que ela foi sua “professora de política”, indicando leituras marxistas. A narrativa provoca a glamourização de Iara como musa da resistência armada contra a ditadura militar ao relatar seus amores, beleza física e seu comportamento que fugia dos padrões morais da época.

Os depoimentos são coletados pela sobrinha Mariana que também produz o filme e é responsável pelo roteiro. Pela proximidade da diretora com “a personagem” da obra é nítida a carga emotiva na narrativa. Marina faz uma narração investigativa da história de sua tia e desmonta a versão oficial do regime, que atribui a morte de Iara, em 1971 a um suicídio. As lembranças dos entrevistados são fortes e carregadas de emoção e se intercalam com registros jornalísticos da época. A equipe destaca o esforço pelos depoimentos inclusive do jovem que teria chamado a polícia ao perceber que Iara havia escapado do cerco dos militares em seu esconderijo, porém ele não aceita falar até porque ele era apenas uma criança na época. Mariana e sua equipe visitam o apartamento onde Iara teria morrido e acompanham um antigo amigo da guerrilheira mostrando como foi a ação dos militares. Os diretores procuram apontar todos os lados e pontos de vista da história seja dos guerrilheiros e familiares quanto dos militares na postura do legista que afirmou que Iara havia se suicidado.

Familiares e amigos de Iara nunca aceitaram essa história de suicídio tanto que em 2003, uma ação judicial determinou a exumação do corpo, que fora sepultado na seção destinada aos suicidas do Cemitério Israelita de São Paulo. A conclusão do novo laudo, assinado pelo legista Daniel Munhoz, da USP, apontou que o tiro que causou a morte da militante fora dado a uma distância incompatível com o suicídio, abrindo espaço à tese de uma execução.

Uma questão que podia ser mais forte no filme seria a denúncia da violência que muitas militantes sofreram, sejam elas filhas, mães ou companheiras e que são sub-representadas após 50 anos do Golpe que sufocou o país em 21 anos de regime militar. Faltou um aprofundamento do discurso para a violência sofrida pelas mulheres que respinga até os dias de hoje, poderia se falar que apesar da democracia atual muito familiares ainda sofrem pelo desaparecimentos dos seus filhos na ditadura até hoje. A linguagem foi intimista e optou pelo micro e não pelo macro da causa, poderia ser a busca de Iaras e não de uma só vítima que teve o destino igual ao de muitos brasileiros.

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