sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Os 3 apresenta um relacionamento moderno sem pudores", por Fabricio Ataíde

Texto escrito por Fabricio Ataíde e publicado no site Pipoca Moderna em 10/11/2011:



Nos últimos anos, a abordagem do universo adolescente ganhou espaço no cinema nacional. A descoberta do primeiro amor, o envolvimento com drogas, questões existenciais típicas da transição de idade, maturidade precoce e os típicos conflitos familiares foram temas de filmes como “As Melhores Coisas do Mundo” (2010), “Desenrola” (2011), “Os Famosos e os Duendes da Morte” (2009) e “Antes Que o Mundo Acabe” (2009). Nada mais justo que o cinema dar atenção também à galera de vinte e poucos anos, e para preencher essa lacuna chega aos cinemas “Os 3″, de Nando Olival.

Com um título autoexplicativo, o longa conta a história de um trio de amigos recém-chegados a São Paulo, que, logo após se conhecerem em uma festa, decidem morar juntos. Como era de se esperar, um triângulo amoroso se forma entre os universitários Camila (Juliana Schalch), Cazé (Gabriel Godoy) e Rafael (Victor Mendes), apesar da imposição de uma regra que definiria a longevidade do pacto de amizade que selaram: eles não poderiam se apaixonar uns pelos outros.

Tema constante no cinema, que já gerou clássicos como “Jules e Jim – Uma Mulher para Dois” (1962) e bobagens deliciosas como “Três Formas de Amar” (1994), o relacionamento a três é apresentado aqui com uma roupagem moderna que dialoga sem pudores com o espectador.

Na trama, os estudantes dividem um galpão em uma área industrial da capital paulista, e durante a convivência nos quatro anos de faculdade, conseguem levar adiante (com alguns tropeços) seu plano inicial de amizade sem envolvimento – apesar da aparente paixão que os rapazes nutrem pela moça.

Tudo começa a se complicar quando um projeto de conclusão de curso apresentado por eles chama a atenção de uma rede varejista, que lhes propõe transformar a vida a três que levam em um reality show.

A ideia, sem pretensões, era criar um site que mostrasse a intimidade de pessoas em suas casas realizando tarefas cotidianas. Com isso, o programa seria vitrine de produtos dos mais variados segmentos, que poderiam ser adquiridos pelos internautas.

A escolha de três atores inexperientes contrasta com a equipe experiente por trás das câmeras. O longa de Olival, que estreou como co-diretor do excepcional “Domésticas – O Filme” ao lado de Fernando Meirelles, conta com o talento de Ricardo Della Rosa (de “Casa de Areia” e “À Deriva”) na captura da belíssima fotografia e é montado por Daniel Rezende (“Cidade de Deus”).

“Os 3″ é um filme simples e despretensioso que possui qualidades técnicas primorosas – direção de arte e trilha sonora também são impecáveis – , mas o abuso do “efeito big brother” que dá tom a seus personagens compromete o resultado. Esse retrato contemporâneo das relações amorosas perde força quando se dedica a usar a tecnologia (e a obsessão nacional de “espiar” a vida alheia) como elemento narrativo. Ao fazer uma crítica velada ao consumismo e à exposição da mídia, que transforma indivíduos comuns em celebridades, dilui o teor provocativo que se presumia ser o motor de sua trama.

O cineasta conduz sua história com acertada precisão e demonstra um domínio ímpar na direção do elenco estreante, mas sua veia publicitária (é dele o viral “Eduardo e Monica”, lançado no último dia dos namorados) moderniza demais o rumo de sua história e causa um efeito duplo: se conecta com os jovens e se distancia do público mais maduro.

O longa é sexy, possui diálogos bacanas e bom timing pra comédia – fatores que são intensificados pela naturalidade do entrosamento de seus protagonistas. Mas ainda que repleto de qualificações, deixa no ar a sensação de que algo faltou.

Os 3:




Fabricio Ataíde
crítico de cinema colaborador do site Pipoca Moderna.

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