terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Memória


Hoje faz 5 anos que Heath Ledger morreu. Entre as matérias que trataram desse fato hoje, encontrei esse texto lindo da jornalista Luciana Borges do site Colherada Cultural. A jornalista é uma das perfiladas do nosso livro e retrata aqui de maneira sóbria e emocionante a carreira desse jovem ator. Ledger foi um dos melhores atores de sua geração e faz muita falta até hoje, quero dizer sempre fará...


As muitas vidas de Heath Ledger no cinema por Luciana Borges 


Imortalizado pelo papel de Coringa em “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, o australiano Heath Ledger experimentava, profissionalmente, o reconhecimento de ser um talento em ascensão pouco antes de sua morte, em 22 de janeiro de 2008, vítima de uma alta dose de remédios para dormir misturados a antidepressivos. 

Ledger, então separado da mulher Michelle Williams, mãe de sua filha única, Matilda, vivia sozinho em um apartamento no bairro do Soho, em Nova York. Enquanto a vida profissional finalmente caminhava a passos largos, em seu íntimo Ledger lidava com a  separação da família, o vício em cocaína e uma forte depressão. Com a estreia de “O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus”, no qual interpreta um homem misterioso responsável por desencadear a ação na trama, encerra-se o ciclo de sucesso iniciado em 1999, com a comédia romântica “Dez Coisas Que Eu Odeio em Você”. 

Heath Ledger nunca teve vocação para ser galã, apesar de ter começado sua trajetória interpretando, invariavelmente, esse tipo de papel. Nascido na cidade de Perth, na Austrália, era filho de uma professora de francês e de um engenheiro de minas que pilotava carros de corrida nas horas vagas. Único menino entre três irmãs, sua primeira experiência como ator aconteceu aos dez anos de idade, quando interpretou Peter Pan em uma peça da escola. No começo da vida adulta se mudou para Sydney e passou a fazer pontas e participações em programas da TV australiana.

Foi apenas após “Dez Coisas...” que surgiu a possibilidade de atuar em filmes mais comerciais, como “O Patriota”, estrelado por Mel Gibson, no qual interpretava o filho do protagonista, e “Coração de Cavaleiro”, de 2000, aventura épica em que foi o ator principal. Nos anos seguintes, Ledger transitou por diversos gêneros cinematográficos em busca de sua assinatura como artista; entre eles, o drama “A Última Ceia” (2001), o western “Ned Kelly” (2003), o romance de época “Casanova” (2003) e a fantasia “Os Irmãos Grimm” (2005). 

O “turning point” de sua carreira aconteceu pelas mãos do diretor Ang Lee, que propôs a ele um personagem capaz de encerrar de vez qualquer pretensão a símbolo sexual. Tratava-se do caubói Ennis Del Mar, um homem rude que vive uma história de amor com seu melhor amigo em “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005). Pode-se dizer que este filme mudou a vida de Ledger. Foi nos sets de gravação que ele conheceu sua ex-mulher e firmou uma forte amizade com Jake Gyllenhaal, seu “par romântico” na trama. Também foi com esse trabalho que conseguiu se firmar como um artista ousado, cujo talento ultrapassava os rasos personagens que vinha interpretando.

O CORINGA QUE BATEU BATMAN

“I’m not a monster, I’m just ahead of the curve” (“Eu não sou um monstro, estou apenas uma curva à frente”). Com essa frase, uma das várias que compõem os excelentes diálogos entre o Coringa e o Homem-Morcego no segundo filme da saga do herói - "Batman - O Cavaleiro das Trevas"  -, dirigido por Christopher Nolan, o vilão mais marcante da história dos quadrinhos tenta justificar seus atos de puro sadismo.



Para viver o Coringa, Ledger começou derrotando uma lista de concorrentes que incluía Paul Bettany, Adrien Brody, Steve Carell e até o veterano Robin Williams. O próprio Jack Nicholson chegou a comentar, na época da produção, em 2006, que aceitaria repetir a atuação. Venceu o australiano, que propôs ao diretor uma interpretação anárquica do arqui-inimigo de Batman. Entre as inspirações principais de Ledger para dar partida à sua concepção do Coringa, estavam o filme "Laranja Mecânica" (1971), de Stanley Kubrick, e a figura de Sid Vicious, baixista da banda de punk rock Sex Pistols.

O papel exigia ineditismo e o ator sabia que seria um marco em sua carreira. Por isso, isolou-se da família e dos amigos durante a preparação para as filmagens. Passou cerca de um mês vivendo sozinho em um quarto de hotel para criar a postura, a voz e a forma de pensar do Coringa. Para entender o que se passaria na mente de uma personalidade como aquela, começou a escrever diários com o que consideraria serem os pensamentos e sentimentos do personagem. 

O resultado final todos nós conhecemos: Ledger potencializou os contornos originais do personagem, criando um homem amoral e psicótico, cujo calcanhar de Aquiles é sua própria vaidade, mas que consegue despertar o que há de pior no outro. Independentemente do que o futuro lhe reservava, foi ali que Ledger conseguiu cravar o brilho de sua estrela entre os artistas do cinema que jamais serão esquecidos.




Luciana Borges,
jornalista e crítica de cinema do site Colherada Cultural.

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